Medindo a qualidade dos cientistas (por Tarso Mazzotti)

Medindo a qualidade dos cientistas

Por Tarso Mazzotti

Como medir a produtividade de cientistas e programas de pós-graduação stricto senso? Simples: conte quantos artigos publicaram em períodos; classifique os periódicos segundo alguns critérios; faça o mesmo para livros e capítulos de livros; deixe de fora a participação em eventos. Pronto, terá uma medida da qualidade dos pesquisadores e programas (ditos cursos).

Essa métrica escalar, pois estabelece uma hierarquia, sustenta-se no argumento: a qualidade dos artigos é avaliada por pareceristas qualificados dos periódicos, idem dos conselhos das editoras de livros, logo quanto maior for a qualidade daqueles, maior a dos trabalhos publicados. O que impõe a necessidade de escalonar os periódicos e editoras e/ou livros: Qualis Periódicos e Qualis Livros da Capes, por exemplo.

Por que essa metrificação é necessária? Porque a CAPES avalia os programas de pós-graduação para os credenciar, mantê-los credenciados, hierarquizando-os e conferir um selo de qualidade. Tudo muito hígido e intersubjetivo. Certo? Em parte, pois as decisões acerca dos critérios obedecem políticas determinadas por um comitê predominantemente composto por pesquisadores vinculados às ciências da natureza e das matemáticas. Certamente estes pesquisadores operam concepções de ciência muito diversa dos demais, particularmente os das ciências do homem. Nada demais, não fosse por um pequeno detalhe: a maior nota é dada  aos pesquisadores e/ou programas que se mostrem internacionais, independente das características das áreas.

Certamente a ciência é transnacional. Logo, não é demasiado exigir a internacionalização dos programas de pós e nem dos pesquisadores. O problema é outro: para que haja diálogo (com estrangeiros ou não) é preciso que as partes sejam reconhecidas como iguais em conhecimento, do contrário tem-se uma relação análoga a de professor e aluno, assimétrica por natureza. Neste caso, a internacionalização implica subordinação do pesquisador/programa aos escolhidos para serem os orientadores que têm por mérito serem estrangeiros, mesmo que suas qualificações não sejam muito distantes das dos brasileiros. Ah! Então é preciso saber escolher os parceiros. Certamente, mas como o fazer se os pesquisadores/programas não tiveram contato suficiente para poder escolher? Uma via é participar de eventos internacionais, para isso precisa de financiamento, mas não se o obtém caso não tenha uma boa nota nas avaliações… Um raciocínio circular? Para ser internacional o pesquisador/programa precisa ser internacional desde sempre. Como? Deve ter-se doutorado no exterior, pois seu orientador abrirá os caminhos para outros contatos, bem como manteve relações com outros pesquisadores. Caso não tenha doutorado no exterior a saída é o pós-doutorado, que não é um título, mas estágio para ampliar tanto o domínio da língua estrangeira quanto saber das novidades e, caso tenha um projeto realizável no prazo da bolsa, produzir um ou alguns artigos, de preferência em co-autoria. Esse é o caminho para a internacionalização dos pesquisadores/programas de pós-graduação, pois viabiliza convênios que efetivamente serão implementados.

Pronto. Agora está tudo resolvido: internacionalizar é muito simples e resulta em uma boa classificação nas planilhas da CAPES, CNPq, nas demais agências e na instituição em que trabalha.

Não perca tempo, torne-se fluente em inglês, pois é a língua franca de nosso tempo. Encontre um grupo no exterior, adapte-se à agenda do grupo, faça um projeto de pós-doutorado (ou de doutorado), solicite sua bolsa. Assim estará começando sua carreira internacional que lhe dará boas notas na avaliação.

Em outro post falarei da internacionalização dos periódicos brasileiros da área Educação.

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