Informação

A diferença que faz diferença: informação e tempo

Em um post anterior, comentei sobre o evento The Difference that Makes a Difference, organizado pelo Society and Information Research Group da Open University do Reino Unido. Pois bem: estão agora disponíveis abertamente os webcasts das palestras e discussões, através do site do auditório principal da Open (infelizmente, muitas das palestras que acontecem lá estão disponíveis apenas internamente, mas algumas estão abertas).

Aproveito para compartilhar algumas das anotações que fiz da fala de John Monk, a primeira da sessão Informação e Tempo.

Em resumo: explorando diferentes conceituações de “tempo” (em particular, de Aristóteles, Heidegger e Wittgenstein) e exemplos de artefatos tecnológicos específicos (ele raramente fala sem exemplos), John montou um argumento sugerindo a necessidade de diferenciar-se entre “causalidade” e “temporalidade” (sugerindo, para um certo choque dos físicos na platéia que depois fizeram críticas interessantes à proposta do palestrante, que “tempo” não é uma dimensão primária da Física).

– O argumento problematizou a noção de “tempo” como mais um “troço” construído discursivamente, implicando, assim, metáforas específicas a culturas, e sugerindo, no entanto, relações com/para “algo” que se mostra intangível e indescritível.

– Propôs poesia e música como as duas formas artísticas “superiores” na expressão de temporalidade.

– A notação musical explora uma analogia entre “tempo” e “espaço”, e essa analogia é constitutiva das disciplinas científicas e administrativas, onde gráficos representam “tempo” em um eixo linear (noto, porém, que ele não mencionou uma questão essencial da filosofia da música, que é exatamente a relação entre “música” e “sua notação”, e há algo aí não somente fascinante mas, também, ultra relevante).

– Os ponteiros do relógio analógico exibem “tempo” como movimento – traz, então, o pensamento de Lewis Mumford (que argumentou que o relógio, não o motor a vapor, é que foi a “grande invenção” da revolução industrial), segundo o qual “tempo” é constitutivo do projeto da modernidade.

– Com isso, o “tempo” se tornou destacado da experiência, um recurso a ser medido e gerido (contrastando com a visão de Heidegger), e “tempo” e “dinheiro” foram ficando conectados com a crescente comodificação de tecnologias baseadas no relógio.

– Sugeriu que a ciência não trata, de fato, de “causas e efeitos”, mas sim de “relações entre quantidades”, e, citando Wittgenstein, disse que causalidade não pode ser calculada, pois estão em jogo, sempre, crenças.

– Concluiu dizendo que precisamos ter cautela ao construir “narrativas de causalidade”, o que é complicado dado o nosso hábito de “pensar” sobre “tempo” como “espaço”.

O que é informação?

Falamos tanto sobre tecnologias de informação e comunicação, sociedade da informação, TIC, pedagogia de transmissão, mas onde está o debate sobre informação? (não se trata de uma pergunta retórica: se alguém tiver o que indicar em português, agradeço!)

Essa questão me ocorreu há algumas semanas atrás, quando recebi a chamada para o evento The Difference that Makes a Difference 2013, um encontro promovido por colegas do Grupo de Pesquisas sobre Sociedade e Informação (SIRG).

A expressão “a diferença que faz diferença” como uma forma de se pensar sobre informação foi cunhada por Gregory Bateson em seu livro Mente e Natureza (em uma busca rápida por um link interessante para integrar no post, encontrei uma apresentação em português sobre esse livro aqui – é um singelo PowerPoint, mas é bem detalhado). Não é a única forma de se tentar definir o termo, até porque há uma relação profunda entre diferentes conceituações de informaçãomodelos de comunicação, de modo que discussões precisam ser, necessariamente, multi- ou inter- disciplinares.

Me parece interessante resgatar a questão acima – não vejo como podemos ter uma crítica de substância à dita pedagogia de transmissão sem isso.